terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Paixão Voluntária

Um dia eu acordei morrendo de saudade de sentir essas emoções que a gente sente quando se apaixona. Um vontade de parecer ridícula, infantil e pura. Você apareceu no bar já com cara de bêbado, mas não me importei. Quis me apaixonar por você, te dar a chance de fazer parte dos meus pensamentos mais sujos, de não querer me ver indo embora, de subir no seu cavalo e me salvar de dias tediosos e medíocres. Logo você, que só chamaria a minha atenção passando por mim banhado em chocolate. Resolvi te dar uma chance de me ver apaixonada por você. Tomamos goles de cerveja travando uma batalha de olhares. Arrumei o cabelo, melhorei o decote, te dei sorrisos sacanas. Ouvi piadas das amigas, afinal, você era muito mais novo, carregava consigo o mínimo de beleza apresentável e ainda tinha um jeito meio estranho. Mas o que eu posso fazer se, quando se quer apaixonar, a vontade é tão voluntariamente forçada que perdemos a noção do ridículo. Conversamos. Gostei do seu cheiro, mas seu papo é fraco.Culpei sua bebedeira adolescente, seu nervosismo por estar diante de uma mulher de verdade, culpei seus amigos que te deixaram tenso. Mas como sou realmente muito bacana, decidi te arrancar do fim da fila e te dar mais uma chance... no msn. Francamente, não há paixão que resista a tantos erros de português.

Votos de submissão ( Fernanda Young)

Caso você queira posso passar seu terno,
aquele que você não usa por estar amarrotado.
Costuro as suas meias para o longo inverno...
Use capa de chuva, não quero ter você molhado.
Se de noite fizer aquele tão esperado frio
poderei cobrir-lhe com o meu corpo inteiro.
E verás como a minha pele de algodão macio,
agora quente, será fresca quando for janeiro.

Nos meses de outono eu varro sua varanda,
para deitarmos debaixo de todos os planetas.
O meu cheiro te acolherá com toques de lavanda
- Em mim há outras mulheres e algumas ninfetas
-Depois plantarei para ti margaridas da primavera
e aí no meu corpo somente você e leves vestidos,
para serem tirados pelo seu total desejo de quimera.
- Os meus desejos, irei ver nos seus olhos refletidos.

- Mas quando for a hora de me calar e ir embora
sei que, sofrendo, deixarei você longe de mim.
Não me envergonharia de pedir ao seu amor esmola,
mas não quero que o meu verão resseque o seu jardim.

(Nem vou deixar – mesmo querendo – nenhuma fotografia.
Só o frio, os planetas, as ninfetas e toda minha poesia.)

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

As mulheres de 30 - Mario Prata

O que mais as espanta é que, de repente, elas percebem que são balzaquianas. Mas poucas balzacas leram A Mulher de Trinta, do Honoré de Balzac, escritomais de 150 anos. Olhe o que ele diz:

“Uma mulher de trinta anos tem atrativos irresistíveis. A mulher jovem tem muitas ilusões, muita inexperiência. Uma nos instrui, a outra quer tudo aprender e acredita ter dito tudo despindo o vestido. (...) Entre elas duas há a distância incomensurável que vai do previsto ao imprevisto, da força à fraqueza. A mulher de trinta anos satisfaz tudo, e a jovem, sob pena de não sê-lo, nada pode satisfazer”.

Madame Bovary, outra francesa trintona, era tão maravilhosa que seu criador chegou a dizer diante dos tribunais: “Madame Bovary c’ést moi”. E a Marylin Monroe que fez tudo aquilo entre 30 e 40?

Mas voltemos à nossa mulher de trinta, a brasileira-tropicana, aquela que podemos encontrar na frente das escolas pegando os filhos ou num balcão de bar bebendo um chope sozinha. Sim, a mulher de trinta bebe. A mulher de trinta é morena. Quando resolve fazer a besteira de tingir os cabelos de amarelo-hebe passam, automaticamente a terem 40. E o que mais encanta nas de trinta é que parecem que nunca vão perder aquele jeitinho que trouxeram dos 20. Mas, para isso, como elas se preocupam com a barriguinha.

A mulher de trinta está para se separar. Ou se separou. São raras as mulheres que passam por esta faixa sem terminar um casamento. Em compensação, ainda antes dos quarenta elas arrumam o segundo e definitivo.

A grande maioria têm dois filhos. Geralmente um casal. As que ainda não tiveram filhos se tornam um perigo, quando estão ali pelos 35. Periga pegarem o primeiro quarentão que encontrarem pela frente. Elas querem casar.

Elas talvez não saibam, mas são as mais bonitas das mulheres. Acho até que a idade mínima para concurso de miss deveria ser 30 anos. Desfilam como gazelas, embora eu nunca tenha visto uma (gazela). Sorriem e nos olham com uns olhos claros. notou que elas têm olhos claros? E as que usam uns cabelos longos e ondulados e ficam a todo momento jogando as melenas para trás? É de matar.

O problema com esta faixa de idade é achar uma que não esteja terminando alguma tese ou TCC. E eu pergunto: existe algo mais excitante do que uma médica de 32 anos, toda de branco, com o estetoscópio balançando no decote do seu jaleco diante daqueles hirtos seios? E mulher de trinta guiando jipe? Covardia.

A mulher de trinta ainda não fez plástica. Não precisa. Está com tudo em cima. Ela, ao contrário das de vinte, nunca ficaram. Quando resolvem vão pra valer. Fazem sexo como se fosse a última vez. A mulher de trinta morde, grita, sua como ninguém. Não finge. Mata o homem, tenha ele vinte ou 50. E o hálito, então? É fresco. E os pelinhos nas costas, pra baixo, que mais parecem pele de pêssego, como diria o Machado se referindo a Helena que, infelizmente, nunca chegou aos 30?

Mas o que mais me encanta nas mulheres de trinta é a independência. Moram sozinhas e suas casas tem ainda um frescor das de 20 e a maturidade das de 40. Adoram flores e um cachorrinho pequeno. Curtem janelas abertas. Elas sabem escolher um travesseiro. E amam quem querem, a hora que querem e onde querem. E o mais importante: do jeito que desejam.

São fortes as mulheres de trinta. E não têm pressa pra nada. Sabem onde vão chegar. E sempre chegam.

Chegam atrás, no Balzac: “a mulher de trinta anos satisfaz tudo”.

Ponto. Pra elas.